terça-feira, 3 de abril de 2012
A CORRUÍRA
Direitos da imagem v. link em 'cantando'
Olhava o céu já de manhã cedinho
E abria o peito cantando afinado
E se animava pra a lida do dia
E a trabalhar se punha esforçado.
Não, não perdia tempo o cantorzinho
Três ovinhos 'cabara de chocar
No oco dum mourão da cerca o ninho
Fizera ele para podê-los criar.
Nosso gato calculista e entojado
De canto não gostava o amaldiçoado
Sério, sisudo, se contrariado
Miava grosso e rouco no telhado.
No barranco, no roseiral de espinho
Cauteloso, pé ante pé, de mansinho
Agachado, paciente, curingava
Preazinhos, lagartixas, mangangavas
O rabo chicoteando o ar sacode
Olhões amarelentos, o bigode
E, ai, se o intrometido cão vizinho...
Gente! Hum, hum, hum, mas dava um bode!
É aí que entro eu, fatal destino
Dei-me mal, sem-graceza de menino!
Veio o cantor com o seu paterno carinho
Pra alimentar os três, sim, ele sozinho
Corri e o tampei com as mãos, engraçadinho
Logo o soltei pra ver-lhe o remoinho...
Ele escapou sim, mas sentou pertinho
Temendo - claro - pelos filhotinhos
Esconjurou-me, vejam vocês que valente
Com chiados curtos mas que insistentes.
Foi quanto lhe bastou ao coitadinho!
O gato o ouviu e, zum, mais que ligeiro
Pulou no pau, feito um rojão certeiro
E abocanhou voraz o passarinho.
Órfãos, três dias piaram os pequeninos
Outra dessas? Ai, nunca mais, meninos.
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[Dos Poemas infantis]
[A. Villas, Roma, 08.03.1995]
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